sábado, 11 de agosto de 2012

Tangerina dos Algarves

Cheguei finalmente à vila da minha infância.
Desci do comboio, recordei-me, olhei, vi, comparei.
(Tudo isto levou o espaço de tempo de um olhar cansado).
Tudo é velho onde fui novo.
(...)


Paro diante da paisagem, e o que vejo sou eu.
Outrora aqui antevi-me esplendoroso aos 40 anos — Senhor do mundo —
É aos 41 que desembarco do comboio [indolentão?].
O que conquistei? Nada.
Nada, aliás, tenho a valer conquistado.
Trago o meu tédio e a minha falência fisicamente no pesar-me mais a mala...
De repente avanço seguro, resolutamente.
Passou roda a minha hesitação
Esta vila da minha infância é afinal uma cidade estrangeira.
(...)
Sou forasteiro, tourist, transeunte.
E claro: é isso que sou.
Até em mim, meu Deus, até em mim.

(De "Notas sobre Tavira", de Álvaro de Campos, por otro nombre Fernando Pessoa, colocado en el original portugués y su traducción al inglés en un cartel justo a la salida de la estación de ferrocarriles de Tavira, Algarve, Portugal.)



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